Um filme de extremos: ou amam ou odeiam. Até o momento de assisti-lo, só ouvi criticas ruins a respeito, o que despertou ainda mais o meu desejo de conferir assiduamente e me tornou, provavelmente, a maior analista de fundo de quintal do filme.
A história é uma proposta antiga com uma nova roupagem. Só assista se estiver realmente disposto a entender. Esse é o meu conselho. As pessoas que vejo por ai falando mal, na verdade, simplesmente viram o filme como uma forma de entretenimento e não se deixaram entregar pelo enredo. Isso é um ato falho. Prestar atenção a todos os detalhes é única forma de tirar uma conclusão coerente sobre tudo.
Primeiro aparece Nina: uma doce menina, aparentemente feliz, paparicada pela mãe, vivendo um conto de fadas que 95% das garotas vivem na infância: ser bailarina.
A atuação de Natalie Portman durante todo o filme, claro, merece destaque. Até mesmo no momento em que a personagem está na pré-seleção para estrelar um recital, a angustia fica clara. Outra dica, se for assistir novamente, observe as expressões da personagem, são bem reveladoras.
Nina se mostra como uma garota com personalidade frágil inicialmente. Ao fazer o teste oficial para encenar “O Lago Dos Cisnes”, vai mal no momento em que precisa encarnar o Cisne Negro e, percebendo isso, resolve se maquiar e ir falar com o mestre da companhia de ballet, Thomas Leroy. Isso mostra que ela tinha a intenção de seduzi-lo para conseguir o que queria. Uma intenção falha, pois isso trairia seu modelo de garota perfeita, tão abertamente cobiçado por ela. Ela não executa o plano e, mesmo assim, consegue o papel.
Começa então a briga consigo mesma para atingir a perfeição que o papel exige, encarnar o Cisne Branco (que é a sua imagem) e o Cisne Negro (impulsivo e hostil). É orientada a todo o tempo para se deixar levar a fazer loucuras e atingir a “perfeição vinda da imperfeição”.
Durante o decorrer da trama até antes do final, é mostrada as costas de Nina diversas vezes. Além das feridas que sua mãe atribui ao ato de coçar, há pontos brancos como hologramas que aparecem de relance cada vez que Nina fica sem blusa. Eles representam as penas do “Cisne Branco”, a garota doce e comportada que ainda é.
Aparece em sua vida Lily, a exata “Cisne Negro”, o que dá margem ao corpo do filme. Nina a todo minuto percebe que deve ser como Lily para, então, atingir a perfeição exigida para o papel, e é exatamente por isso que, muitas vezes, enxerga seu próprio rosto na garota. As cenas dos espelhos em que a imagem se move contra os seus comandos é a representação de que ela mesma estava fugindo de seu comando.
Após executar diversos atos de rebeldia contra sua mãe e seus princípios, o espectador é levado a pensar que essa era uma personalidade guardada de Nina e que estava se libertando aos poucos. Isso é subestimar nossa querida bailarina. Tudo isso é apenas uma tentativa de encarnar a personagem, de forma brilhante.
As feridas que aparecem psicologicamente em seu corpo (?) são, na verdade, imagens de punições que ele deveria receber por seus atos (antes de incorporar a si a personalidade Cisne Negro). Isso é exemplificado por, logo após se masturbar na banheira, seus dedos começarem instantaneamente a sangrar.
O final do filme é um misto de agonia e certeza: ela irá encarar o personagem até o final e absorver sim o seu final. Quando finalmente o Cisne Negro se incorpora a ela, surgem então as penas negras, substituídas pelas brancas. Na cena do espelho, tentando vencer Lily (que representa a malicia e maldade), acaba atingindo a si mesma, pois está absorvido o seu lado ruim e bom, catastroficamente e milimetricamente equilibrados por ela mesma. E pelo autor da história. Ela precisa morrer, por que não fazer isso de forma poética e enigmática?
Até mesmo as cenas porns precisam estar ali para fazer o resto ter sentido.
Uma garota infantilizada comandada por uma mãe frustrada que, para atingir a perfeição, encara o desconhecido, o imoral... sem tempo para pensar na própria personalidade, encarar aquilo que lhe propõem, em busca de agradar a todos. Vive a personagem. E nada mais.
AVALIAÇÃO FINAL:
Merece 4 Oscarzinhos, só não merece 5 porque ai seria muito puxasaquismo e porque realmente a mescla de realidade-delírio confunde a galera.
É um filme que recomendo ver de novo, de novo e de novo até sairem penas das suas costas e seus olhos ficarem vermelhos.